O Leopardo e o Feudalismo em Portugal.
A tradição é uma coisa muito respeitável e temos de reconhecer que Portugal tem uma habilidade extraordinária de se reinventar sem perder a sua essência.
Tomemos o feudalismo como exemplo. Quem disse que, por cá, o mesmo se extinguiu no séc. XIV ou XV? Pensemos nestes bancos que têm feito notícia (BPB, Banif...) e na forma como os seus responsáveis criam fraudulentos "buracos" de milhares de milhões de Euros. Num sistema justo ou pelo menos sensível à justiça, veríamos esses mesmos responsáveis no mínimo castigados judicialmente e obrigados a restituir todo e qualquer Euro que fosse encontrado na sua posse às entidades lesadas, nomeadamente ao seu próprio país.
No entanto aquilo que vemos é um Estado benemérito que - num tempo de crise extrema, como há muito não se vivia - vem a correr para castigar com uma palmadinha na mão os perpetradores destes hediondos crimes financeiros e, acima de tudo, "salvar" os bancos que os mesmos haviam afundado em dívidas devido à sua gestão criminosa.
Numa altura em que se corta na Saúde, na Educação, na Segurança Pública, nos Ordenados dos trabalhadores, nas Pensões dos mais idosos, na Cultura e nas Artes vemos, descaradamente e sem qualquer pudor, o nosso benevolente Estado a salvar bancos que acumulam nos seus cofres nada mais que podridão, com o dinheiro dos mesmos contribuintes que estão a cada dia mais pobres, doentes, ignorantes, inseguros, deprimidos, desolados e (espero) conscientes acerca do verdadeiro sistema em que afinal vivem, agora que a "nuvem" ilusória do crédito fácil se dissipou, pondo assim a descoberto a realidade escondida.
Ora, este sistema piramidal - em que um punhado de pessoas que se encontra no topo gasta (ou faz desaparecer) dinheiro aos milhões para que sejam depois os muitos milhões de pessoas que estão na base, a pagar essa factura - não só me traz à memória a era do Feudalismo, como também aquela frase inesquecível dita por Don Fabrizio Salina (encarnado por Burt Lancaster) no brilhante O Leopardo de Visconti e que reza assim:
Muita coisa tem de mudar para que tudo fique na mesma!
1 Comments:
Gostei desta opinião. Bem visto. Simples e directo.
Porém, o Feudalismo no sentido histórico é mais um instrumento do decorrer histórico de um sector da humanidade rumo à sociedade e sistemas políticos actuais.
Há - talvez - que distinguir entre o Feudalismo como o designei no parágrafo anterior da ideia ou da atitude feudal. Mas penso, hoje, tanto quanto a convicção consciente pode permitir, que as atitudes de negação embora lucrativas descritas no post fazem parte de uma construção humana que se perde nos tempos.
Até no tal Feudalismo, em cada feudo, havia a necessidade de não pressionar demasiado mas defender o campesinato de forma a que suas forças pudessem vir a ser úteis nas guerras por quaisquer interesses.
O que não é o caso actual. Vejamos: se tivéssemos que lutar ao serviço do país que somos, chegaríamos talvez bem cansados ao campo de batalha... e sairíamos derrotados.
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