sábado, fevereiro 16, 2013

O Leopardo e o Feudalismo em Portugal.



A tradição é uma coisa muito respeitável e temos de reconhecer que Portugal tem uma habilidade extraordinária de se reinventar sem perder a sua essência. 

Tomemos o feudalismo como exemplo. Quem disse que, por cá, o mesmo se extinguiu no séc. XIV ou XV? Pensemos nestes bancos que têm feito notícia (BPB, Banif...) e na forma como os seus responsáveis criam fraudulentos "buracos" de milhares de milhões de Euros. Num sistema justo ou pelo menos sensível à justiça, veríamos esses mesmos responsáveis no mínimo castigados judicialmente e obrigados a restituir todo e qualquer Euro que fosse encontrado na sua posse às entidades lesadas, nomeadamente ao seu próprio país. 

No entanto aquilo que vemos é um Estado benemérito que - num tempo de crise extrema, como há muito não se vivia - vem a correr para castigar com uma palmadinha na mão os perpetradores destes hediondos crimes financeiros e, acima de tudo, "salvar" os bancos que os mesmos haviam afundado em dívidas devido à sua gestão criminosa. 

Numa altura em que se corta na Saúde, na Educação, na Segurança Pública, nos Ordenados dos trabalhadores, nas Pensões dos mais idosos, na Cultura e nas Artes vemos, descaradamente e sem qualquer pudor, o nosso benevolente Estado a salvar bancos que acumulam nos seus cofres nada mais que podridão, com o dinheiro dos mesmos contribuintes que estão a cada dia mais pobres, doentes, ignorantes, inseguros, deprimidos, desolados e (espero) conscientes acerca do verdadeiro sistema em que afinal vivem, agora que a "nuvem" ilusória do crédito fácil se dissipou, pondo assim a descoberto a realidade escondida. 

Ora, este sistema piramidal - em que um punhado de pessoas que se encontra no topo gasta (ou faz desaparecer) dinheiro aos milhões para que sejam depois os muitos milhões de pessoas que estão na base, a pagar essa factura - não só me traz à memória a era do Feudalismo, como também aquela frase inesquecível dita por Don Fabrizio Salina (encarnado por Burt Lancaster) no brilhante O Leopardo de Visconti e que reza assim: 

Muita coisa tem de mudar para que tudo fique na mesma!