Rotten Apples.
Ficaram concentrados nas maçãs e ninguém parece ver que toda a árvore está podre.
Recibos verdes, precariedade, futuro incerto, desemprego, impossibilidade de constituir família, Sócrates, Homens da Luta, Fernando Tordo, Vitorino...
De tudo se viu um pouco ao longo da avenida. Mas acerca da impunidade instalada, relativa aos políticos e gestores públicos que desde há muito usam os cofres e o património do Estado em benefício próprio, nada se viu.
Digam-se os nomes, aponte-se o dedo, exijam-se responsabilidades, mostre-se aos que roubam que sabemos quem são, que estamos atentos e, quem sabe, abalaremos as fundações desta estrutura podre, na qual habitamos e que se alimenta de nós, enquanto nos vai sugando, enquanto se protege por detrás do muro formado pelo nosso silencio, distracção ou ignorância.
Aumentam-se impostos e impõem-se medidas de austeridade. No entanto ninguém se pergunta que é feito do dinheiro, do muito dinheiro, dos milhares de milhões de euros de todos nós que se usam para pagar o BPN ou se perdem na pornográfica venda ao desbarato do património do Estado, para não falar das negociatas, fuga a impostos ou casos de corrupção, que vão fazendo primeiras páginas de jornais ou abrindo os noticiários televisivos, que têm habitualmente os mesmos protagonistas, uns mais descarados e risonhos, outros menos simpáticos, mais sisudos. Mas há algo que têm sempre em comum, a promessa de que, enquanto puderem, continuarão a roubar e com garantida impunidade.
A mesma impunidade acerca da qual nada se disse ou fez hoje, na avenida.