2011
Vejo-os da janela. Saem à rua para sentir a novidade, para ver se está tudo na mesma, se algo mudou, quase com medo de não sentir a diferença, pois ela tem de existir, tem que estar lá, algures, mesmo que não se saiba apontar exactamente onde. Por outro lado, há um enorme desejo de que nada tenha mudado demais, que o chão ainda seja feito das mesma pedras e asfalto que pisamos ontem, que as árvores estejam todas no sítio onde as vimos pela última vez, que os rostos que amamos estejam lá, onde esperamos vê-los, não mais diferentes do que a última imagem que guardamos deles, tocados apenas ao de leve pela imperceptível pena do tempo que pouca história lhes acrescenta no passar de umas horas. Nada acabou, está tudo igual mas o que se sente é diferente, um novo fôlego uma espécie de esperança, uma purga automática do passado recente, mais um começo a partir de uma folha em branco, que já sabemos não ser possível mas em que não podemos deixar de acreditar. Precisamos de tudo diferente sem que nada tenha mudado. Iludi-mo-nos com a esperança de que o novo resolverá o velho sem que tenhamos de nos resolver a nós mesmos e acreditamos que é desta que ficará tudo bem. E é essa energia renascida em formato de fé que nos vai empurrar mais uma vez, com toda a força e determinação, ao longo da estrada que ainda ontem nos parecia tão íngreme e pedregosa que dar mais um só passo era doloroso demais. Seja portanto bem-vindo, senhor 2011 e obrigado pela ilusão de esperança e de fé que nos traz.
1 Comments:
Escreves com tanta alma que lamento que não o faças mais vezes. Beijo, meu velho-novo Paulo :)
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